Passeando pela net, visitando alguns blogs que gosto muito e onde dou uma passada quase diariamente para saber se ha algo novo, deparei com uma discussão sobre o véu muçulmano.
Discussão que seria muito interessante se as debatedoras tivessem se apoiado somente em fatos e não se deixassem levar por lendas ou pela opinião do "arabe com quem namoro ou com quem saio". Mas claro que também houveram exceções e foram so essas exceções que me fizeram ler os comentarios.
O que me chamou a atenção e o que vem me fazendo pensar um pouco mais nestes ultimos meses sobre a condição feminina neste mundo tão machista e tão misogino foram algumas participantes desta discussão que quiseram comparar a situação da mulher no mundo islâmico e a situação da mulher no mundo não islâmico. "Nos somos tão oprimidas quanto essas mulheres", "Exigem que mostremos o corpo exatamente como exigem que elas o escondam", "Eu conheço muitos muçulmanos e eles são até muito ingênuos" e também passam a um argumento mais doloroso e muito mais sério que é a infibulação feminina.
Eu não estou escrevendo este texto com o intuito de demonizar a religião muçulmana, longe de mim, eu também conheço muçulmanos, tenho uma penca de amigos das mais diversas religiões, tenho um profundo respeito por quem consegue fazer da sua propria religião um assunto privado mas que seja claro, detesto o proselitismo vindo de qualquer religião que seja.
Eu estou aqui agora, sentada diante desse computador porque não sei exatamente como colocar por escrito a minha raiva quanto ao absurdo destas afirmações.
Eu não sou tão oprimida quanto uma mulher que nasceu e mora no Irã e onde existe uma policia especial so para vigiar os trajes feminininos, eu não sou obrigada a me desvestir como é obrigada a se cobrir uma mocinha passeando pelo Cairo, eu nao arrisco a minha vida quando escolho a minha roupa. Por mais que eu acredite no respeito e no multiculturalismo eu não consigo e não quero relativizar uma violência absurda como a excisão ou no seu caso extremo a infibulação feminina.
Eu não vou fazer aqui um relato detalhado deste absurdo(para isso existe internet e um sem numero de informação sobre o assunto), mas gostaria so de lembrar que a excisão é um costume pré islâmico, e se hoje são sociedades muçulmanas na sua maioria a pratica-la podemos encontrar também a mutilação entre sociedades cristãs e animistas, sobretudo em alguns(muitos para o meu gosto) paises africanos.
As religiões monoteistas de uma forma ou de outra sempre oprimiram as mulheres, basta que nos lembremos da inquisição ou que usemos como exemplo o patriarcado judeu ou cristão.
Lembrar-se de tudo isso não ameniza o tratamento dado as mulheres em alguns paises de fé muçulmana, gostaria so que essas pessoas se informassem um pouquinho melhor, tem uma quantidade imensa de coisa interessante por ai para se ler, jornais, livros, até quadrinhos.
Irshad Manji, Nawal el Saadawi, Assia Djebar, Fatima Mernissi, Taslima Nasreen, Marjane Satrapi entre tantas e tantos outros.
Citei somente o nome de mulheres, essas damas tiveram uma relação muito estreita com o islã, nasceram em familias muçulmanas na sua maioria e escreveram sobre a liberdade e a condição feminina, alguns pagam com a propria liberdade, como Nasreen e Manji que vivem com proteção policial ou como Nawal el Saadawi que passou um longo tempo em prisão. Essas mulheres cometeram o mais atroz dos pecados: escreveram sobre a condição de outras mulheres ou delas mesmas dentro da sociedade muçulmana.
E por favor, para terminar "conheço muitos muçulmanos e eles são até muito ingênuos" isso é do racismo puro, acompanhado de uma super dose de complexo de superioridade.