07/01/2008

Dai, pensa um troço exotico e marrant

Eu tenho birra de algumas palavras e expressões. Me lembro que quando morava na Italia detestava quando alguém me dizia: Dai. A vontade era responder dou não imbecil, fala direito que eu não gosto de palavrinha besta.
Aqui na França detesto Marrant, não vejo nada de engraçado nesta palavra, até porque tenho impressão que estão dizendo que a coisa é marrom e não engraçada.
Esta ultima vez que estive no Brasil todos usavam uma expressão besta, para nos fazer compreender uma coisa sem usar um adjetivo inteligente diziam: Pensa. Como se a capacidade de pensar no que se fala, de usar o intelecto para compreender uma imagem ou uma situação tivesse sido apenas descoberta.
Não, pensa uma festa! tem coisa mais estupida que isso?
Peguei nojo também de alguns adjetivos, mas o que me mata é o tal de exotico.
Tivemos alguns encontros nesses ultimos anos e digo que nunca foram encontros agradaveis.
Me disseram logo quando cheguei na Europa que eu não parecia brasileira, branca demais, normal demais, não era exotica para vir da América Latina.
No decorrer desses ultimos dez anos continuei tendo relações dificeis com essa palavra, não mais em relação direta a minha cara pessoa mas pior ainda, em relação a meus amigos, a traços ou expressões culturais das pessoas que me cercam.
Sabado nos encontramos a três: o exotico, a anta e a empregada do museu.
O que responder sem ser grosseira ou sem rebaixar a pessoa na sua frente, um cliente, alguém que devemos tratar com luvas de pelica, que te pergunta sobre o exposto no museu pois não esta acostumada com essas peças exoticas em exposição mas que como européia esta acostumada a verdadeira arte?
Como explicar isso dentro de um espaço concebido para abrigar uma super amostra de arte extraeuropéia mas que sejamos francos e sinceros, é pura e simplesmente um espaço paternalista, preconceituoso, que tenta disfarçar com o nome politicamente correto um museu etnografico mas que nem por isso deixa de ter na sua coleção, um super valor artistico e estético? Quando é que exotico deixou de significar diferente ou o que vem de fora, no caso de um pais extrangeiro, para passar a idéia do inferior? Ou sera que o outro é sempre menos?

P.S.: No proximo post falaremos sobre "O SUL DO MUNDO". Essa sim, essa dai me tira do sério e ja me valeu grandes problemas.

3 comentários:

Mr. Lekker disse...

Toda a gente sabe que brasileiro só dança samba, joga futebol, assiste novela e bebe chope! Tudo o que saia desta configuração deixa de ser o "verdadeiro" brasileiro, perde o tal exotismo que é tão "giro". A atitude paternalista é quase genética. Principalmente nos franceses. Lá, sim, se faz a verdadeira arte, a verdadeira literatura, a verdadeira gastronomia, o verdadeiro cinema...
O verdadeiro trabalho reflexivo e artístico é entendido como sendo feito no velho mundo (e vá, nos States). Tudo o resto é visto como manifestação de pulsões dionisíacas, belas mas irracionais, e nesse sentido semi-animalescas.
Isto tudo para dizer que o colonialismo geográfico poderá ter acabado, mas o mental e cultural permanece quase intacto e inquestionado.

Anônimo disse...

Sub-desenvolvidos porém inteligentes!:D
Voltei viu?
Bjo!

samya disse...

Pois é M.Lekker, tanto continua intacto que ontem brincando com uma menininha no museu pois ela estava imitando um macaquinho, o pai homem muito culto que no sabado leva os fedelhos para um passeio cultural fez o seguinte comentario: é mesmo um macaco que se tem que imitar quando se visita um museu etnologico, minha filha conseguiu entender o conceito!
E eu ganho um salario minimo para ouvir isso.
beijos e bom domingo